quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Os Sem-bilheterias


Depois do fracasso no lançamento, no início do ano, de A Grande Família – O Filme, longa-metragem que prometia ser o grande sucesso nacional de 2007 em público e crítica, e acabou levando pouco mais de 2 milhões de pagantes às telonas, o cinema brasileiro parece mesmo já ter entrado 2007 com o pé esquerdo. Azar ou não, a situação perdura em meados de fim do ano. As duas últimas produções de grande repercussão lançadas não salvaram a arrecadação das bilheterias nacionais e muito menos o ego dos esperançosos defensores do cinema canarinho.


A primeira delas, Primo Basílio, lançado em agosto desse ano, trazendo um elenco global com Glória Pires, Débora Falabella e Reinaldo Gianecchinni, não teve resultados expressivos. A adaptação da obra de Eça de Queiroz para o cinema, dirigida por Daniel Filho, famoso por Muito Gelo e Dois Dedo D’água (2006) e Se eu fosse você (2006), foi dura e negativamente criticada pela mídia nacional. A maioria dos especialistas acusa o filme de representar, nada mais, nada menos, do que uma novela na telona. “Um dos questionamentos mais comuns diz respeito à linguagem desses filmes, que estaria importando, de forma exagerada, elementos televisivos. Planos fechados, diálogos pouco naturais, fotografia e edição de TV”, citação da crítica de Eduardo Vieira, em A Tarde, que exemplifica a opinião da mídia relacionada.


A recepção ruim do público fica mais explícita com os números: em 7 semanas de exibição o blockbuster levou cerca de 700 mil pessoas ao cinema. Número nada animador se levarmos em consideração o filme Se eu fosse você, sucesso nacional de bilheteria do ano de 2006. Dirigido pelo mesmo diretor, o filme foi exibido durante aproximadamente 12 semanas arrecadando cerca de R$ 3,7 milhões (fonte: adorocinema.com.br).


Ao contrário de Primo Basílio, o filme Cidade dos Homens, lançado este mês (setembro), é um bom exemplo do diálogo entre cinema e televisão. Mas, mesmo com discurso apropriado ao meio, recursos técnicos verdadeiramente cinematográfico e fotografia de encher os olhos, a produção também não contabilizou grandes somas. Depois do sucesso da série homônima exibida pela Rede Globo, era de se esperar uma melhor receptividade para o longa. O que não aconteceu. Os números parecem não valorizar a produção. Até a semana passada o filme ocupava a 10ª posição no ranking de bilheterias, levando pouco mais de 200 mil pessoas aos cinemas (fonte: 100% Vídeo). Baseado no público pode-se fazer uma estimativa de arrecadação de cerca de R$ 350 mil . Valor praticamente simbólico tendo em vista a qualidade da produção.


O filme traz um roteiro original, levantando, sem clichês, questões como violência nos morros do Rio de Janeiro, a guerra do tráfico de drogas e a paternidade. Surpreende ainda a capacidade dos produtores em tratar esses temas de maneira particular, envolvendo o público em conflitos que poderiam ser reais, sem fazer correspondência entre esse e Cidade de Deus, longa de mesmo gênero lançado em 2002, mesmo ano em que a série Cidade dos Homens começou a ser exibida na TV.


Aí, cabem as perguntas: O que há com o cinema nacional? Falta divulgação para as produções? Ou um cuidado maior na elaboração de roteiros? Uma adequação entre o que é feito e o desejo do público nacional? O fato é que ainda existe muito preconceito em relação aos filmes nacionais e isso prejudica muito a arrecadação das produções nacionais e, conseqüentemente, o desenvolvimento da cultura cinematográfica brasileira.

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