quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Basílio dos 50's...



(Primo Basílio - Brasil, Drama, 2007; Direção: Daniel Filho; Roteiro: Daniel Filho e Euclides Marinho)

Longe de mim querer mostrar-me como profunda conhecedora de cinema, literatura ou anos 50, mas...

Fato é que, como todo universitário (bom ou não), passei pelo vestibular (Que Deus o tenha!) e tive de ler a obra do detalhista Eça de Queiroz, O Primo Basílio. Clássico da literatura, publicado em 1878, o romance consolidou-se como uma análise da família burguesa do século XIX e sobretudo, como crítica aos superficiais pilares da sociedade da época.

Em resumo, o adultério é, mais uma vez, o tema em questão, personificado na figura da jovem e ingênua Luísa. A história se passa em Lisboa e envolve personagens característicos da burgueisa lisboeta. Casada com Jorge, engenheiro e marido dedicado (respectivamente nessa ordem), Luísa se vê sozinha, quando o marido viaja a trabalho, presa ao marasmo das leituras. Marasmo esse que só é quebrado no encontro com o conquistador e bom vivant Basílio, primo da jovem, recém chegado de Paris. Basílio e Luísa revivem, durante a ausência do marido, uma calorosa paixão do passado. Trocas de cartas, encontros no Paraíso e juras de amor que são bruscamente interrompidos pela chantagem da empregada Juliana, que guarda cartas dos amantes e as utiliza como instrumento de extorsão contra Luísa. Diante da situação, Basílio retorna à Paris e Luísa termina arrependida, revelando, em delírio de febre, o adultério ao marido.

Rica em detalhes e em crítica social, quando adaptada para o cinema a obra perde o objetivo. A película de 100 minutos é dirigida por Daniel Filho - aclamado diretor da Rede Globo de TV, que já roteirizou no cinema Beijo na Boca (1982) e dirigiu A Partilha (2001) e Muito Gelo e dois dedos D'agua (2006) - e traz no elenco atores considerados 'de peso' para as novelas globais: Fabio Assunção, Débora Falabella e Reynaldo Gianecchini. E por falar em novela, parece ser essa a proposta do filme: trazer para a telona o que estamos acostumados a assistir na telinha.

Além de fazer uma adaptação um tanto quanto deturpada, trazendo a trama para a São Paulo do século XX, mais precisamente para os prósperos anos 50 de JK, o que se vê no longa é melodrama barato, destancando aqui a bela atuação da atris Débora Falabella - A Dona da História (2004); Cazuza (2004) e Lisbela e o prisioneiro (2003) -, algumas cenas de sexo - pouco mais explicitas que as das novelas da globo - e uma Glória Pires (acreditem!)incrivelmente feia.

É bem verdade que o roteiro da obra é mantido no filme com fidelidade, porém a adaptação por si só já peca quando pensamos em diferenças de costumes. A visão e aceitação de valores na sociedade lisboeta do século XIX era muito mais rígida se compararmos com o Brasil dos anos 50. O adultério, portanto, era visto de forma bem diferente nos dois contextos e isso não aparece na obra. Se adaptar o filme para uma realidade brasileira e para um tempo mais próximo saiu mais barato (tendo em vista que os gastos com cenário e figurino para o século XIX seriam bem mais altos) o tema central da trama, que gere toda a história, torna-se raso enquanto deveria ser alvo de maior cuidado.

O que mais agrada na obra é trilha bem orquestrada por Guto Graça que traz La Traviata , L'eau à la bouchec (de Serge Gainsbourg), Apelo (de Tom Jobim) Saudades do Brasil (de Vinicius de Moraes e Baden Powel). Fora isso, nada de bela fotografia, de grandes lances de cinegrafia ou atuações estupefantes.


Confesso que não esperava muito diante do pós-doc de Daniel Filho em produzir novelinhas para a telona (ver filmes do dito cujo citados acima)!

4 comentários:

nessita disse...

ainda naum vi o filme mas toh louca para ver a atuação do Fábio Assunção que eu venero e de todo elenco muito bem escolhido, lhi o livro e gostei bastante, agora é só conferir e ter certeza se vai superar minhas expectativas...

mto bom seu blog cris, de sábias palavras

Na Ponta da Língua disse...

adoreiiii o filme!
eu vi! eu vi!
huahuah
te amo amiga!

beijos

Ricardo "Tio Zeca" Stabolito Jr. disse...

Com Rede Globo no meio, só pode dar em furada. "Primo Basílio" é considerado o filme salvador do cinema (comercial) brasileiro nesse ano. Meu irmão, em preparação para o vestibular, assistiu. Total deturpação do retrato histórico a q a obra se propunha em sua época, televisão transmitida no cinema, novela de 100 minutos.

Abraço, Cris. Texto de primeira.

Maria Barral disse...

Cristiane,
É agradável ler seus textos (desde sua crônica sobre "o Apoio"). Parabéns pela habilidade de transmitir sua personalidade através deles.

PS: Sugiro que você também seja editora de texto do nosso teleprograma cultural.

PS outra vez: Quanto ao filme, não assisti por opção. Me contento com a leitura do livro (que foi muito instigante) e com a versão antiga do filme, com Giulia Gam e Marília Pêra.